Da incredulidade
Ver é ouvir. A imagem constrói uma narrativa; que depois passa para o ouvido e, por fim, para as palavras que, eventualmente, serão de novo ouvidas - é assim, especialmente, com Deus. Ver é ouvir. Deus fala através de visões, dialoga connosco num íntimo tão profundo que se Revela ao discípulo para este O revelar aos homens. E a experiência que Deus tem de nós nos olhos Dele é particularmente satisfeita na passagem do evangelho de João sobre Tomé, que precisa de ver e tocar para Acreditar. E Deus convoca-o para experiência de o tocar, para que Acredite e tenha fé. Depois termina Jesus, dizendo-nos face a face a mais lacónica das frases de todo o Evangelho: Felizes aqueles que acreditam sem terem visto.
Ver é ouvir. Numa época em que o senhor dos tempos é o método científico, confiar nos sentidos, nos bons e velhos sentidos, é visto com um certo cepticismo: não o cepticismo extremo das filosofias que desconfiam da realidade tal como ela se nos apresenta, porque aí poríamos em xeque-mate o próprio método científico, mas o cepticismo solipsista, como validação individual da experiência com o real. No fundo, nestes romances com Deus e os sentidos, eu só acredito se EU vir, se eu sentir. Somos Tomé. Todos.
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