O trisso das andorinhas
O poema pode ser corrompido pela luz.
O poema pode ser corrompido pelo absurdo.
Pode ser, e é-o quantas vezes, pelo amor.
Ou pelo sonho.
Charcos e embondeiros são
na realidade
o que o poema é.
A poesia é uma corda quieta no pulso que te puxa
no silêncio
à ação do amor. A deriva pelo papel de algum novo Klee.
Adicionando aos pés iluminados de asma
no charco entre o embondeiro e um guarda a melodia,
e o salto desobediente da rã.
O silêncio é sempre um movimento que vem do interior descobrir mais interior.
O silêncio tem uma nascente repleta de ambiguidade,
porque na sua qualidade maligna
é a renúncia activa ao encontro,
algo que pode ser expresso para além desse tácito e cruel movimento de nada dizer.
Mas é só quando o silêncio age profundamente nessa devastação
do conhecimento do outro que se torna compreensível e claro
o que deve a alma abdicar de esconder.
[poema a incluir no meu próximo livro,
Obsolescência Natural ou Quinta-Feira Sem Televisão]
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