Balancê

Se este miúdo escrevia, eu bem o via tomar balanço e mexer os lábios para murmurar num tom quase audível uma ladainha rápida, como doodle denso e hipnótico. Mas eu não apanhava uma. E, às vezes, as mãos naquele jeito de videoclipe de MTV acompanhavam um projecto rítmico indecifrável. Curvava-se, de novo, sobre o tampo limpo e insuportavelmente amarelo-elefante desta mesa de hospital, e escrevia. Balançando-se. Era isto todo o santo dia. Também fumava. Foi numa dessas vindas até ao janelão que me abeirei e lhe perguntei o que eram aquelas manchas de texto em caligrafia bonita. Disse-me serem letras de R&B/Hip-Hop. Fez todo o sentido.

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