Mulheres de salto alto

Eu admirava os seios das raparigas na reprografia 
a sua ausência, a sua desnutrição
enquanto fotocopiavam um livro de David Foster Wallace.
E admirava não porque os escritores fossem uns chatos
lúcidos e aborrecidos
autofágicos sem coração pendente.
Eu admirava os seios das raparigas
porque não conhecia os escritores
e os seios assemelhavam-se a botas de salto
a Março
a uma polpa derivativa em que dava gozo sentir tocar planar
eram os seios uma gramática sem entendimento
uma força inesgotável de recursos
tsundoku sem princípio nem fim
que eu espreitava.

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