Procura um poema

Os versos eram pequenos deuses que escondia em vasos.

Lembrava os dias longínquos de criança; a ver se lhe desperta um novo poema. 

Vai até à escola, lembra quando marcavam as balizas nas paredes. Vem-lhe um sorriso discreto à cara. Hoje, passa pela escola a caminho do trabalho, a mesma, e já existem balizas. Até cestos de basquetebol. Mas muito menos imaginação e traquinice, claro. 

O chão está pavimentado. No seu tempo era de terra batida. A escola agora tem uma mensagem, visível para quem passa, ler: Se me ensinas com amor, eu aprendo... E Gustavo lembra-se do contínuo protegendo a empregada de limpeza do marido, que veio procurá-la à escola com tiros de caçadeira. Os meninos a recolherem às salas de aula. A polícia, entretanto. As sirenes, as luzes azuis a baterem no quadro, aquela adrenalina, aquela incompreensão do mundo em que vivem os adultos. O medo. Medonho medo.

Nada disto lhe desperta um poema.

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